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Vedánta (Jñána Yoga) enquanto Pramánam - Miguel Homem

Vedánta (Jñána Yoga) enquanto pramánam
Miguel Homem

Pramánam significa meio de conhecimento. A ignorância é removida quando se conquista o conhecimento correcto e apropriado para a remover. Para se adquirir esse conhecimento é necessário o instrumento ou meio de conhecimento adequado.

Assim, para conhecermos o mundo utilizamos os cinco órgãos dos sentidos. Eles permitem-nos conhecer os objectos do mundo. Os cinco órgãos dos sentidos são o meio apropriado para conhecer as coisas que os sentidos podem objectificar. Cada órgão dos sentidos está desenhado para conhecer apenas uma parte do mundo exterior, o que significa que só permite conhecer uma faceta de cada objecto. Os olhos conhecem forma e cor, os ouvidos conhecem o som; o nariz, o cheiro; a língua, o sabor e a pele, o toque.

Graças ao conhecimento adquirido em virtude dos órgãos dos sentidos a ignorância acerca do mundo com que nascemos vai desaparecendo. Para que a ignorância desapareça é necessário que haja conhecimento. E para que o conhecimento apropriado surja é preciso o meio de conhecimento próprio que permite o nascimento desse conhecimento. Aquilo que cada meio de conhecimento nos permite conhecer é único e não pode ser conseguido com outro. Por mais que queira, os meus olhos não me permitem ouvir música da mesma forma que os meus ouvidos não me permitem reconhecer as cores de um arco-íris.

O conhecimento do mundo que adquiro através dos órgãos dos sentidos é adquirido através da percepção. Através dessa percepção posso também inferir. A inferência também me pode trazer conhecimento, mas é sempre o conhecimento baseado na percepção dos órgãos dos sentidos.

Os órgãos dos sentidos permitem-nos conhecer objectos do mundo. E quando o que quero conhecer sou eu, o sujeito? Os órgãos dos sentidos permitem-me conhecer objectos, mas não o sujeito. Para tal tipo de conhecimento os órgãos dos sentidos não são um meio de conhecimento válido. É que o sujeito nunca pode ser objecto se si mesmo. Ele pode ser um objecto de outro sujeito, mas não se si próprio.

A palavra é um meio de conhecimento independente. Não há dúvida de que a palavra depende da percepção, mas é ao mesmo tempo um meio independente da simples percepção do som ou da forma e que permite às palavras dar azo ao nascimento do conhecimento que a simples percepção não revela. As palavras encerram em si percepções passadas, permitem estabelecer associações entre percepções, mesmo na ausência do objecto percebido. A palavra - shabda – é, neste sentido, um meio de conhecimento independente que nos pode revelar tanto aquilo que nos é conhecido como aquilo que nos é desconhecido.

A palavra como meio de conhecimento directo e indirecto

A palavra pode ser um meio de conhecimento directo ou indirecto conforme a relação entre aquele que conhece e o objecto. Se o objecto está no âmbito da experiência do conhecedor, a palavra pode permitir um conhecimento directo desse objecto. Se, pelo contrário, está fora do âmbito de experiência do conhecedor dá origem a um conhecimento indirecto. Exemplo da manga.

No caso que aqui nos interessa, o objecto que queremos conhecer é o próprio sujeito, sou eu. Eu estou presente em mim a todo o momento. Se é assim, então a palavra pode esclarecer acerca de um objecto sempre presente em mim – eu. Neste caso a palavra aponta para o que já conheço, mas cuja ignorância me impede de reconhecer. Claro que não é qualquer palavra é a palavra certa no contexto adequado. É a palavra daquele que já se conheceu, daquele que se libertou dos seus condicionamentos, o que alcançou moksha em vida – um jívanmukti – e se dedica ao ensino. O Shástra é, também, essa palavra. O Vedánta ou o Jñána Yoga é o shabda pramána directo do átman cujo significado tem de ser revelado por um professor competente. Um professor competente é aquele que é shtrotryam, versado no ensino das escrituras e do sampradáya (tradição e método de ensino), e brahmanishtham, que se conhece a si mesmo como Brahman. Vedánta é o corpo de conhecimento e ensino que se encontra no final dos quatro Vedas, Rg, Yajur, Sáma e Atharva.

Acesse o site: www.dharmabindu.com

 

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